Esta adaptação do livro de Sêneca busca compreender até certo ponto a ira das massas. Refiro-me às revoltas que atingiram o Chile nos últimos anos. Essas massas que saem para protestar pela educação, pela saúde, pelos animais e pelo aborto. Que se manifestam com ira. Que são capazes de destruir escolas pedindo para melhorar a educação. De queimar os hospitais pedindo melhor saúde. E assim, uma série de contradições que só consigo compreender pela ira que se observa no seu protesto que quebra e destrói tudo no seu caminho.

Escrevi sobre a ira especialmente nesta época de individualismo. Em que as pessoas se deixam levar pela ira ao dirigir, nas redes sociais, no trabalho, enfim, em todos os lugares. E isto é pior quando a ira se manifesta em grupos de pessoas numa manifestação pública. Sendo esta paixão sombria e desenfreada uma das mais perigosas que acredito que ainda não sabemos como lidar como sociedade. Especialmente agora que nos aproximamos gradualmente de uma crise institucional no Chile, que prevejo para o ano de 2030 se não aprendermos com as lições do passado. Explico as ideias que sustentam esta crise no meu livro "Golpe de Estado no Chile, ano 2030" caso você queira saber mais.

Quem pensa que estou exagerando muito provavelmente nunca viu de perto um protesto em via pública. Eles caem numa desgoverno e ressentimento que poderiam facilmente terminar em tragédia se não fizermos algo para evitá-lo. Com a ira das massas, um político pode facilmente acabar declarando guerra. Estas massas descontroladas podem cometer homicídios. Imploram beirando a humilhação diante de seu líder. Ou saiem irados para lutar com uma multidão de pessoas cegas pelo desejo de vingança.

Talvez seja por isso que os tribunais podem declarar que um assassino teve uma breve insanidade. Em vez de chamar isso de ira. Essa mesma lógica de loucura breve poderia ser aplicada ao grupo de pessoas que saqueiam um supermercado e matam o guarda?

As massas populares são transformadas no calor do seu protesto. Impotentes para controlar a ira, esquecem as consequências de suas ações. Eles esquecem o que é certo e se tornam teimosos e irredutíveis. Lutando pelas causas certas ou pelas mais irreais. Eles se tornarão insensíveis em distinguir o que é justo ou correto. Para antecipar os protestos que aumentarão no Chile. Acho conveniente descrever as atitudes às quais devemos nos acostumar. Os sinais do grupo furioso podem ser vistos na mídia, mas ainda assim irei descrevê-los. Parece que quando as pessoas protestam no anonimato das massas tendem a misturar-se.

Seus olhos incham e brilham de raiva; aos poucos seus rostos ficam vermelhos, quase roxos de tanto gritar; seu sangue ferve com as batidas de seus corações; Seus lábios tremem de impotência, muitas vezes auto-induzida; Eles apertam os lábios e isso transparece em suas mandíbulas; seus cabelos ficam em pé; sua respiração torna-se curta e barulhenta; Suas feições se contorcem enquanto eles rugem; Você não consegue entender o que eles dizem enquanto atingem o que quer que tenha o azar de cruzar seu caminho. Talvez seja por isso que se diz que a ira é um dos sete pecados capitais.